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A 12 de Tamuz de 1927, o sexto Rebe de Lubavitch, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, foi oficialmente liberado de sua sentença de exílio a Kastroma no interior da Rússia. Vinte e sete dias antes, o Rebe fora preso por agentes da GPU e da Yevsektsia ("Seção Judaica" do Partido Comunista) por suas atividades de preservar o judaísmo por todo o império soviético e sentenciado à morte. A pressão internacional forçou os soviéticos a comutarem a sentença para exílio e, em seguida, a libertá-lo por completo.

A liberdade em si ocorreu em 13 de Tamuz, e 12 -13 de Tamuz é celebrado como "uma festa da libertação" pela comunidade Chabad-Lubavitch. 12 de Tamuz também é o aniversário de Rabi Yossef Yitschac.

Download (em PDF) Diário da Prisão do Rebe

 Uma Breve Biografia

Rabi Yossef Yitschac Schneersohn 5640-5710 (1880-1950)

Rabi Sholom Dovber, quinto líder do crescente Movimento Chabad, estava constantemente atarefado pelo crescente número de reuniões públicas, conferências e importantes convocações rabínicas às quais precisava comparecer.

O desfile interminável de delegações chassídicas, pessoas buscando seu conselho primeiras e orientação, a necessidade de supervisionar e instruir seus seguidores, além de sua necessidade pessoal de estudo bíblico e chassídico, ocasionavam mais e mais interferências em seus dias de trabalho, que já se esticavam desde o início da manhã até tarde da noite.

Ele decidiu designar um secretário pessoal para aliviá-lo de parte de seu imenso fardo. Sua escolha recaiu em seu filho de quinze anos, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn. Nascido em 12 de Tamuz de 5640 (1880) em Lubavitch, Rússia, o jovem havia provado sua capacidade no estudo e já era reconhecido como erudito brilhante. Logo provaria ser também um brilhante administrador, com um notável talento para atividades comunitárias e cívicas.

Em 5655 (1895), o jovem Rabino participou da grande conferência de líderes religiosos e leigos em Kovno, e novamente no ano seguinte em Vilna.

Em 13 de Elul de 5657 (1897), com dezessete anos, Rabi Yossef Yitschac casou-se com Nechama Dina, a filha de Rabi Abraham Schneersohn, um homem importante de grande erudição e piedade (e neta do Tsemach Tsedec).

Durante a semana de festejos que se seguiu à cerimônia de casamento, Rabi Sholom Dovber anunciou a fundação da famosa Yeshivá Lubavitch, Tomchei Tmimim, e no ano seguinte designou sei filho como diretor-executivo. Sob a competente direção de Rabi Yossef Yitschac, e guiada pelo pai sempre vigilante, a Yeshivá Lubavitch prosperou e desenvolveu-se, havendo então a fundação de muitas yeshivot afiliadas por toda a Rússia.

As duas décadas do século vinte foram um teste à ilimitada energia, ao zelo e à capacidade do jovem Rabino. Podemos somente mencionar brevemente os eventos mais importantes ocorridos nestes vinte anos.

Como parte dos exaustivos esforços sendo feitos para melhorar a situação econômica dos judeus na Rússia, Rabi Yossef Y. Schneersohn recebeu de seu pai a incumbência de dirigir uma intensa campanha para o estabelecimento de uma indústria têxtil em Dubrovna.

Esta campanha, em 5661 (1901), levou Rabi Schneersohn a Vilna, Lod e Koenigsberg. Ele obteve a cooperação de rabinos de destaque e dos famosos filantropos, os irmãos Jacob e Eliezer Poliakoff, e a tecelagem foi devidamente estabelecida com aproximadamente 2000 empregados judeus.

Já sabemos da difícil situação dos judeus sob o regime czarista, e de como os Rebes de Lubavitch continuamente intercediam por seus irmãos, tanto com o Governo quanto no Tribunal. Rabi Yossef Y. Schneersohn encarregou-se de tais missões e viajou diversas vezes à capital, S. Petersburgo, e a Moscou.

Quando a Guerra Russo-Japonesa foi desencadeada no Oriente em 5664 (1904), Rabi Yossef Y. Schneersohn tornou-se ativo na campanha iniciada por seu pai, a fim de fornecer matsot para Pêssach aos soldados judeus na frente de batalha oriental.

Na agitação generalizada que se seguiu à deflagração daquela guerra, uma nova onda de pogroms varreu o Território dos Judeus. Rabi Yossef Y. Schneersohn foi enviado por seu pai à Alemanha e Holanda, e conseguiu obter a intercessão de estadistas importantes a favor do judaísmo russo.

Em 5668 (1908), participou novamente na convocação rabínica em Vilna. No ano seguinte, foi à Alemanha para conferenciar com líderes judeus. Ao voltar, tomou parte na preparação para a próxima convocação rabínica de 5670 (1910). Suas atividades públicas enérgicas e de longo alcance, sua vigilante defesa dos direitos dos judeus russos, e sua constante luta contra as autoridades locais e centrais despertaram a animosidade do regime czarista da época.

Entre 5662 e 5671 (1902-1911), Rabi Yossef Y. Schneersohn foi preso em Moscou e S. Petersburgo em quatro ocasiões. Como os inquéritos governamentais não conseguiram saber de nada incriminador em suas atividades, foi libertado todas as vezes com uma advertência formal.

Estes incidentes não detiveram Yossef Y. Schneersohn na continuação de sua obra, mas animaram-no a esforços ainda maiores. Nos anos 5677 e 5678 (1917-18), liderou novamente as convocações de rabinos e leigos em Moscou e Kharkov.

Com a morte de seu pai em 2 de Nissan de 5680 (1920), Rabi Yossef Y. Schneersohn foi convidado por todo o mundo de Chabad e aceitar a liderança do movimento e tornar-se o próximo Lubavitcher Rebe.

Naquela época, as condições tinham mudado consideravelmente. Devido ao resultado da guerra e da Revolução de Outubro, a Rússia ficou em um estado de constantes conflitos internos. Como sempre, quem mais sofria eram os judeus.

Naqueles dias, Rabi Schneersohn viu-se praticamente sozinho, enfrentando uma tarefa que exigia esforços sobre-humanos - a reabilitação da vida judaica comunitária e religiosa na Rússia.

Lutou esta guerra em duas frentes, a material e a religiosa. Os judeus russos estavam reduzidos à mais abjeta pobreza e ao sofrimento, e o futuro do judaísmo tradicional era gravemente ameaçado pela política da Yevsektzia ateísta. (O ramo judaico do Partido Comunista Soviético, responsável por atividades anti-judaicas. Foi subseqüentemente dissolvido pelo Governo Soviético.)

Durante esta luta desigual e esmagadora pela preservação do judaísmo tradicional na Rússia, Rabi Yossef Y. Schneersohn percebeu que um novo país teria de desbancar a Rússia como grande centro de Torá. Fundou então uma yeshivá de Lubavitch em Varsóvia, no ano 5681 (1921), e ajudou muitos estudantes e funcionários de sua Yeshivá russa a se mudarem para a Polônia e ali continuarem sua obra. A Yeshivá Lubavitch na Polônia, como suas iguais na Rússia, desenvolveu-se rapidamente em um completo sistema de yeshivot, e centenas de alunos foram matriculados em suas diversas filiais.

Nesse ínterim, Rabi Yossef Y. Schneersohn destemidamente conduzia sua obra na Rússia, fundando e mantendo yeshivot, escolas de Torá e outras instituições religiosas.

Naquela época, Rabi Schneersohn tinha sua sede central em Rostov (sobre-o-Don), mas devido às acusações caluniosas, foi necessário mudar-se dali. Estabeleceu sua residência em Leningrado (S. Petersburgo) de onde continuou incansavelmente a dirigir suas atividades. Organizou um comitê especial para auxiliar os artesãos e operários judeus que desejavam guardar o Shabat, e enviou professores, pregadores e outros representantes às mais remotas comunidades judaicas da Rússia, para fortalecer sua vida religiosa.

Percebendo a necessidade de organizar comunidades Chabad fora da Rússia, o Lubavitcher Rebe formou o Agudat Chassidei Chabad dos Estados Unidos e Canadá, e manteve contato regular com seus seguidores no Novo Mundo.

Em 5687 (1927), o Rebe fundou a Yeshivá Lubavitch em Bokhara, uma remota província da Rússia.

Sua resistência contra aqueles que desejavam minar a religião judaica tornou-se ainda mais arriscada. A Yevsektzia estava determinada a refreá-lo, e recorreu até mesmo à intimidação e tortura mental.

Certa manhã, quando o Lubavitcher Rebe estava cumprindo yahrzeit por seu pai, três membros da Yevsektzia irromperam em sua sinagoga, revólveres em punho, para prendê-lo. Calmamente, o Lubavitcher Rebe terminou suas preces e os seguiu.

Enfrentando um conselho de homens armados e determinados, o Lubavitcher Rebe mais uma vez reafirmou que não abriria mão de suas atividades religiosas, quaisquer que fossem as ameaças. Quando um dos agentes apontou-lhe um revólver, dizendo: "Este brinquedinho fez muitos homens mudarem de idéia", o Lubavitcher Rebe replicou calmamente: "Aquele brinquedinho pode intimidar somente o tipo de homem que tem muitas paixões e deuses, mas apenas um mundo - este mundo. Como eu tenho apenas um D'us e dois mundos, não estou impressionado pelo seu brinquedinho."

Sua luta chegou ao auge no verão de 5687 (1927), quando o Rebe foi preso e colocado em confinamento solitário na temida prisão Spalerno em Leningrado. Foi condenado à morte, mas a oportuna intervenção de estadistas estrangeiros salvou sua vida. Em vez de ser executado, foi banido para Kostroma, nos Urais, por três anos.

Cedendo à pressão mais intensa por parte daqueles estadistas, as autoridades decidiram libertar o Lubavitcher Rebe. Foi informado dessa decisão em seu aniversário, 12 de Tamuz. No dia seguinte foi-lhe permitido sair e instalar-se na aldeia de Malachovka, nos arredores de Moscou. Uma intervenção mais decidida resultou na permissão para o Rebe deixar a Rússia e se dirigir a Riga, na Latvia. No dia seguinte a Sucot, juntamente com sua família e boa parte de sua valiosa e histórica biblioteca, o Rebe dirigiu-se a Riga. Sem parar para descansar, reiniciou suas atividades, começando a criar uma yeshivá em Riga. Em 5688 e 5689 (1928-29), garantiu a provisão de matsot para os judeus na Rússia.

Em 5689 (1929), o Lubavitcher Rebe visitou Israel, dirigindo-se em seguida aos Estados Unidos. Em Nova York, teve uma recepção cívica e liberdade garantida na cidade. Centenas de rabinos e líderes leigos recepcionaram o Rebe e procuraram ter entrevistas pessoais com ele. Durante esta visita, ele foi recebido pelo Presidente Hoover na Casa Branca.

Retornando à Europa, continuou suas diversas atividades, mas para ter mais facilidades para sua obra passou a residir em Varsóvia em 5694 (1934). As atividades das yeshivot Lubavitch na Polônia a esta altura tinham adquirido um impulso considerável. As yeshivot centrais em Varsóvia e aquelas na vizinha Otvock atraíam centenas de eruditos de todas as partes da Polônia e de outros países, incluindo os Estados Unidos. Dois anos depois, o Rebe fixou residência em Otvock, e dali passou a dirigir todas suas atividades.

Ao irromper a Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939 (5699), o Rebe recusou todas as oportunidades para sair do inferno de Varsóvia até que tivesse tomado todos os cuidados com suas yeshivot e feito todo o possível pelos seus irmãos que sofriam na capital polonesa. Ali permaneceu durante todo o terrível cerco e bombardeio de Varsóvia e sua capitulação final aos invasores nazistas.

Mesmo durante essa época, ele conseguiu evacuar grande parte de seus alunos para regiões mais seguras, e todos os meninos americanos que tinham estado estudando na Yeshivá Lubavitch em Otvock foram transportados em segurança de volta a seus lares nos Estados Unidos.

Sua coragem e destemor (ele ordenou a construção de uma sucá e cumpriu a mitsvá de "habitar na sucá" durante o auge do bombardeio) foram uma fonte de inspiração para a sofrida comunidade judaica de Varsóvia.

Somente quando percebeu que nada mais poderia fazer por eles foi que o Rebe finalmente concordou em dar atenção aos desesperados apelos de seus muitos seguidores em Varsóvia e no exterior, de tentar sair das ruínas carbonizadas da capital polonesa e tomar o rumo dos Estados Unidos.

Com a cooperação do Departamento de Estado em Washington, os amigos e seguidores do Rebe trabalharam incessantemente para arranjar sua viagem de Varsóvia a Nova York. Finalmente, o Lubavitcher Rebe e sua família receberam um salvo-conduto até Riga - àquela altura, a Latvia ainda era neutra. Uma vez ali, o Lubavitcher Rebe continuou a ajudar os numerosos refugiados que tinham conseguido escapar da Polônia para a Lituânia e Latvia.

Em 9 de Adar II de 5700 (19 de março de 1940), o Lubavitcher Rebe chegou a Nova York no navio Drottningholm. Foi entusiasticamente recebido por milhares de seguidores e muitos representantes de diversas organizações, bem como autoridades cívicas.

Logo após sua chegada, o Rebe fez saber que não fora por sua própria segurança que tinha feito a viagem aos Estados Unidos, mas porque tinha uma importante missão a cumprir durante sua estadia ali. Esta missão era fazer da América um centro de Torá, que substituiria as arruinadas comunidades judaicas da Europa.

A década que se passara entre a primeira e segunda visitas do Rebe aos Estados Unidos tinha deixado marcas em sua constituição. Porém, embora sua saúde estivesse bastante abalada pelo sofrimento e martírio, Rabi Schneersohn devotou-se imediatamente à sua nova missão.

A Yeshivá Central Tomchei Tmimim Lubavitch foi logo estabelecida, e tornou-se a precursora de muitas yeshivot e escolas de período integral por todos as partes dos Estados Unidos. O Rebe continuou seus esforços em prol de seus irmãos além-mar afligidos pela Guerra, e ao mesmo tempo concentrou-se em sua intenção declarada de provocar um renascimento religioso nos Estados Unidos.

Após uma breve estadia na cidade de Nova York, o Rebe transferiu sua sede para o Brooklyn. A primeira edição do boletim mensal, Hakriah Vehakdusha, fez sua aparição como órgão oficial de Agudat Chassidei Chabad, e continuou durante toda a Guerra.

Nos dez anos de sua vida nos Estados Unidos, a influência e realizações de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn no fortalecimento do judaísmo, ampliando a educação judaica, e estabelecendo instituições de estudo judaico foram tão notáveis, que o judaísmo e o estudo de Torá nos Estados Unidos, e subseqüentemente em outros países, tomou uma feição totalmente diferente.

Além das Yeshivot Lubavitch Tomchei Tmimim nos Estados Unidos e Canadá, o Rebe fundou Machne Israel, Merkos L'Inyonei Chinuch, escolas Beth Rivkah e Beth Sarah para meninas judias, e a Editora Kehot, dedicada à publicação de livros no verdadeiro espírito e tradição de Torá.

Foram também criados grupos Messibot Shabat para meninos e meninas, para tornar as crianças e adolescentes judeus conscientes de seu grande legado espiritual. Reunindo-se a cada Shabat em uma atmosfera agradável, e lideradas por uma pessoa de sua própria idade e oriunda do mesmo bairro, estas crianças são imbuídas com os fundamentos da religião judaica, da santidade do Shabat e outros preceitos.

Ao final da Guerra em 5705 (1945), Rabi Yossef Yitschac Schneersohn estabeleceu sua Organização para Auxílio e Reabilitação para Refugiados, Ezras Pleitim Vessidurom, com um escritório regional em Paris. Muitos refugiados receberam ajuda dessa organização para emigrarem a Israel. Em 5708 (1948), o Lubavitcher Rebe fundou a Aldeia Chabad (Kfar Chabad) perto de Tel Aviv.

Pouco antes de sua morte, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn voltou sua atenção às necessidades do judaísmo norte-africano. Foram lançados os alicerces para uma rede de instituições educacionais, incluindo yeshivot, Talmud Torot e escolas para meninas, das quais todas continuam a prosperar sob o nome "Oholei Yossef Yitschac Lubavitz".

Uma rede semelhante de instituições educacionais foi fundada em Israel, e escolas de período integral em Melbourne, Austrália.

Muitos trabalhadores comunitários e líderes judeus empenharam-se a partir da obra bem-sucedida de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn e têm redobrado seus esforços. Novas organizações e instituições têm brotado no campo da educação judaica e do cumprimento do Shabat, e sua influência está se fazendo mais e mais sentida. Pode-se dizer com certeza que este grande homem foi um dos pilares do judaísmo mundial em nossa geração.

Rabi Yossef Yitschac Schneersohn faleceu no Shabar, 10 de Shevat de 5710 (1950), após trinta anos de esforço infatigável como líder de Chabad e líder do judaísmo mundial.

A notícia de sua morte entristeceu os judeus no mundo inteiro, e eles prantearam com um senso de perda pessoal o passamento de um líder tão eminente, devotado e inspirador.