Um caso que é um estudo em contraste:
Rabino Gavriel e Rivka Holtzberg vs Bernard L. Madoff
Gavriel e Rivka levaram luz à vida das pessoas, e criaram um Kidush Hashem global (santificação do Nome de D’us) quando foram brutalmente assassinados por agentes das trevas simplesmente por serem judeus. Eles personificavam as virtudes da caridade e bondade, iluminando a todos que conseguiam atingir. Em seguida aos assassinatos, que tocaram uma corda profunda, uma onda de boas ações reverberou no mundo inteiro.Bernard Madoff levou escuridão à vida das pessoas, e criou um Chilul Hashem global (profanação do Nome de D’us) quando massacrou a segurança financeira – e a confiança – de muitos indivíduos e organizações, matando com um só golpe várias instituições de caridade e prejudicando muitas outras, destruindo a confiança no futuro de todos os investimentos. Ele personifica a ganância, egoísmo e auto-indulgência. Na esteira de seu comportamento desprezível, no qual sozinho ele erodiu a confiança necessária para manter vivos os mercados, as pessoas ficaram desoladas e atordoadas. Estamos nos perguntando até onde isso vai se desenrolar, quantos outros serão implicados, e acima de tudo quais serão as conseqüências – como isso afetará toda a natureza dos investimentos, fundos de risco e a confiança nos administradores financeiros?
Não poderíamos ter encontrado um exemplo mais flagrante demonstrando os dois extremos diametrais no espectro do comportamento humano: as alturas da suprema nobreza e auto-sacrifício em Mumbai, ser morto a serviço de outros; as profundezas da ignomínia e interesses próprios em Nova York, prejudicando outros a serviço de si mesmo, enganando seu próprio povo, amigos e colegas, explorando a confiança de sobreviventes do Holocausto e pessoas que nele confiavam.
O que faz algumas pessoas escolherem uma vida a serviço do próximo, e outras uma vida a serviço de si mesmas? Exatamente isso: escolha. Cada um de nós tem o poder de escolher aquilo que quer ser. E não se engane a respeito disso: cada um deve escolher entre estes dois camimhos a cada momento da vida. Ou servimos aos outros, ou servimos a nós mesmos.
Não queremos minimizar os crimes de Madoff, nem sugerir que toda pessoa que serve a si mesma se tornará um Madoff, mas seu comportamento é um sintoma, não uma causa, das forças sociais que giram em torno do lucro egoísta e material. E, toda vez que você fica auto-absorvido, pensando exclusivamente sobre si mesmo – “eu e nada mais” – está a um passo de criar um esquema como Madoff fez. Talvez não na escala de 50 bilhões de dólares – nem todos têm essa oportunidade – mas quem está contando?
E na verdade, a opção se tornou mais amplificada em nossos tempos atuais. O conforto e as liberdades da prosperidade abriram espaço para um clima de auto-indulgência. Quando os avós de Bernie Madoff estavam fugindo para salvar a própria vida junto com os avós daqueles que ele enganou, não havia muito tempo para desenvolver esquemas, comprar iates, jatinhos e correr da Park Avenue para o sul da França, de Hamptons para Palm Beach, ganhando um dólar e gastando dois. Também havia pessoas gananciosas na época, aqueles com poder e riquezas abusando do restante da população, porém para os judeus pelo menos, lutando pela própria vida, fundos de pensão e de investimento eram a última de suas preocupações. Eles deram a vida para que seus filhos pudessem crescer como bons judeus, indivíduos virtuosos, que levariam o bastão passado de geração em geração desde os tempos de Abraham – para transformar a sociedade humana, lutar pela justiça social, ajudar os pobres e oprimidos e respeitar a dignidade humana inata em cada pessoa.
Como foi que saímos dos trilhos? E o que transpirou para criar um clima que alimenta um Bernie Madoff, e quem sabe quantos mais do mesmo tipo? Um foi apanhado, mas quantos escaparam?
Devemos sentir pena pelos fundos e administradores de fundos que confiaram a Madoff o dinheiro de outras pessoas? Devemos empatizar com os indivíduos ricos que confiaram a ele a fortuna de uma vda? Devemos ficar entristecidos pelo fato de que algumas instituições de caridade hoje investem tudo, em vez de doar o dinheiro aos necessitados? Independentemente dos crimes chocantes de Madoff, seus investidores são inocentes? Afinal, quando eles estavam ganhando dinheiro nas costas de outras pessoas, não reclamaram.
Se o materialismo domina a sua vida, então você está sujeito às suas leis. E a lei cardinal é esta: nasceu pelo todo poderoso dólar; morra pelo todo poderoso dólar. Se o dinheiro é a fonte de seu poder e segurança, então o dinheiro será também sua fonte de destruição e desgraça. Porque afinal das contas, o dinheiro é transitório, e qualquer coisa que seja transitória jamais pode proporcionar o firme alicerce da segurança.
Quanto dinheiro foi ganho “legalmente” pelos administradores do dinheiro – que são protegidos pelos contratos com letra miúda – com a mesma ganância? Quantos cobraram porcentagens para passar adiante o dinheiro de seus investidores para as contas de Madoff?
Este escândalo apenas traz de volta à atenção para a nossa atual quebra e recessão global. Que papel desempenharam a ganância e o lucro pessoal na criação da crise financeira geral de hoje? Interesses egoístas e lucros a curto prazo às custas das massas foram identificados como os principais culpados. Quem pagará por este egoísmo? Os criminosos ou as vítimas? Um socorro do governo nada mais é que o fardo de alguns poucos indivíduos sendo assumidos pelos americanos que pagam impostos. Mas que outra opção temos agora?
Bônus obscenos para empresas financeiras nos últimos anos dominaram as manchetes de dezembro. Agora, neste mês de dezembro, sabemos que esses verdadeiros bônus em dinheiro foram pagos sob alegação de retorno falso e ilusório. Os bilhões de dólares em bônus foram expostos como essencialmente um roubo das massas que investiram aquele dinheiro e nada receberam em retorno. Estes administradores têm de devolver o dinheiro que roubaram dos investidores?
O Sr. Madoff fez coisas deploráveis, mas ele é parte e produto de um clima de ganância, no qual o auto-interesse, não seu valor inerente, dirige os mercados. E agora, as galinhas voltaram para casa para se empoleirar, e fomos todos deixados cambaleando. Porém, usando os termos dos setores financeiros, todo escândalo tem um potencial para servir como um “corretor de mercado”. Primeiro, ao expor os abusos do sistema reconhecemos suas falhas inerentes. Segundo, isso nos permite reconhecer o quanto caímos e nos afastamos de nosso chamado, e nos dá a oportunidade de nos realinhar com nós mesmos e com nossas prioridades.
Este é o único fator positivo na confusão econômica atual; isso revelou como a ganância mata. Primeiro os outros; depois você mesmo. Como o amor pelo dinheiro e poder venceu o poder do amor. Como, apesar de todos os nossos avanços tecnológicos, não somos super-homens. Longe disso. Humanos são humanos e se deixados por si mesmos serão controlados pelo egoísmo, a tal ponto que chegarão, sem hesitação nem pena, a prejudicar os inocentes e até as próprias famílias.
Bem no meio da grande crise econômica global – enraizada na ganância humana – dois servos da sociedade (entre outras muitas almas inocentes) são massacrados em Mumbai – lançando uma luz brilhante, pelo menos por um momento, demonstrando que todos nós temos uma opção: aqui estão os Holtzberg que dedicaram a vida não às próprias necessidades, mas para servir ao próximo.
Se jamais houve um holofote sobre as nossas impropriedades, aqui temos um. Por que Gavriel e Rivka tiveram de sofrer, jamais saberemos. Porém na morte, na vida, eles nos ensinaram uma lição fundamental. O mínimo que podemos fazer para homenageá-los é aprender com eles. Talvez os Holtzberg dêem ao Sr. Madoff algo para pensar na prisão.
Qual é a lição que eles deixaram? O supremo antídoto contra a ganância e a corrupção inerente na auto-indulgêcia é tornar-se voltado para o outro, em vez de para si mesmo. Os judeus são líderes naturais. Uma luz entre as nações. Desde o tempo de Avraham eles têm a qualidade de desafiar o status quo e trazer mudanças positivas aos seus ambientes. Nossa única imunidade ao comportamento de tipos como o Sr. Madoff é nos tornarmos voltados para o próximo, em vez de para nós mesmos.
O que isso pode nos ensinar sobre o futuro da nossa economia?
Estamos numa encruzilhada. Acabamos de ver o capitalismo naquilo que tem de pior, mantido por regulamentação intensa, objetiva – necessária para um sistema de mercado livre sobreviver. Como as indulgências do capitalismo estão fazendo a casa cair, e a confiança foi abalada, eu gostaria de acreditar que estamos agora no raro limiar de uma nova mudança de paradigma: quando a casa pega fogo construiremos a mesma casa em seu lugar, ou seremos sábios, aprenderemos com o passado e construiremos um novo tipo de economia, que fundamentalmente equilibre e integre o lucro pessoal e a virtude.Ouvindo a maioria das pessoas falando hoje, pode-se ouvir a voz fraca de uma vítima, dizendo que essa reviravolta logo terá acabado, os mercados voltarão ao lugar – não é o que aprendemos: Wall Street prevalece sobre o longo prazo; o valor sempre aumenta – e prosseguiremos como se nada tivesse acontecido.
Ou aprenderemos com nossas experiências e criaremos realmente um novo clima de verdadeira confiança, baseado em doação e caridade, e tolerância zero absoluta para a ganância. Insistiremos em novos líderes econômicos, que não fazem escolhas baseados em recompensar a si mesmos? Algum dia aprenderemos? Creio que algumas pessoas aprenderão suas lições. Algumas que foram afetadas preferirão seguir adiante e se isolar da cova dos leões de Wall Street. E terão uma vida austera, desistindo da esperança de que as pessoas egoístas mudarão.
Porém o que desejamos ver é nada menos que uma revolução econômica: uma nova maneira de olhar para nossos sistemas financeiros, de reconhecer que dinheiro é um meio para um fim mais elevado.
Há mais de um século, Andrew Carnegie, o homem mais rico do mundo na sua época grande filantropo, escreveu num memorando:
“O homem não vive apenas de pão. Conheci milionários à míngua por falta do nutriente que sozinho pode sustentar tudo aquilo que é humano no homem, e conheço operários, e muitos que são chamados de pobres, que se deleitam em luxos além daquilo que os milionários podem alcançar. É a mente que torna o corpo rico. Não há classe tão lamentável e digna de pena como aquela que possui dinheiro e nada mais. O dinheiro pode somente ser o lacaio útil para atingir as coisas muito mais elevadas que ele mesmo. Exaltado além disso, continua Caliban e ainda desempenha o papel da besta. Minhas aspirações são um pouco mais elevadas. São as de ter contribuído para o esclarecimento e as alegrias da mente, para as coisas do espírito, a tudo que tende a levar doçura e luz aos trabalhadores de Pittsburg. Considero este o uso mais nobre possível da riqueza.”
Carnegie mais tarde escreveu um ensaio chamado “O Gospel da Riqueza”, que influenciou fortemente a filosofia filantrópica de Bill Gates e Warren Buffet (os dois homens mais ricos de nossos tempots), que em conjunto estão doando mais de 50 bilhões de dólares. Somente Buffet fez uma doação há dois anos de mais de 37 bilhões na época (o que essa quantia significa hoje não sei) – um ato de caridade sem precedentes que ficará para sempre na história.
Em seu ensaio, Carnegie expõe sua abordagem contrária à ganância inerente à riqueza e lucro egoísta que são o incentivo do capitalismo:
“Permanece, então, apenas uma maneira de usar grandes fortunas; porém nisso temos o verdadeiro antídoto para a temporária distribuição desigual de riqueza, a reconciliação entre ricos e pobres – o reino da harmonia – um outro ideal, diferindo, na verdade, daquele do Comunismo ao exigir apenas a maior evolução das condições existentes, não a total reviravolta da nossa civilização. É baseado sobre o atual individualismo intenso, onde a corrida é projetada para colocá-lo em prática sempre que for conveniente. Assim teremos um estado ideal, no qual a riqueza extra de poucos se tornará a propriedade de muitos, porque administrada para o bem comum, e esta fortuna, passando pelas mãos de poucos, pode ser transformada numa força muito mais potente para a elevação de nossa raça que tivesse sido distribuída em pequenas somas às próprias pessoas. Este, então, é considerado como sendo dever do homem de riqueza: primeiro, dar um exemplo de estilo de vida modesto, sem ostentação, desprezando a exibição e a extravagância; prover moderadamente os desejos legítimos daqueles que dependem dele; e após fazê-lo, considerar todas as receitas excedentes que vêm a ele simplesmente como fundos de confiança, que ele foi escolhido para administrar, e deve considerar como um dever administrar de maneira que produza os resultados mais benéficos para a comunidade – o homem de fortuna assim se torna o mero agente e depositário para seus irmãos mais pobres, levando ao serviço deles a sua superior sabedoria, experiência e habilidade para administrar, fazendo mais bem para eles do que aquilo que poderiam conseguir por si mesmos.”
Sugiro quem com a atual confusão da economia, fiquemos realmente no limiar de um novo paradigma econômico. E parcialmente baseados na fórmula de Carnegie, possamos criar um projeto para implementar este novo paradigma.
Nos bons tempos econômicos, com os lucros nos cegando a todos, seria bem difícil sugerir quaisquer mudanças. Porém com a crise atual, surge uma oportunidade.
À medida que testemunhamos a carnificina deixada pelo abuso de dinheiro e interesses próprios, nos defrontamos com três opções: uma seria simplesmente fugir deste mundo sujo das finanças. Outra seria esperar e então voltar à desordem do ponto de partida, até rebentar o próximo escândalo. Em resumo, a riqueza finalmente entenderá seu verdadeiro valor: a energia da alma, elevando e transformando toda a existência. Alguém poderia dizer que a economia do futuro será uma elegante síntese de uma economia livre preferindo comportar-se de maneira semelhante ao socialismo, onde a principal distinção será que a partilha coletiva virá de dentro, auto-iniciada em vez de imposta. Reconhecer a verdadeira natureza da fortuna levará os homens a criar sistemas que honrarão e expressarão o propósito interior de nossa riqueza: criar uma morada para D’us.
Começaremos a ver a aquisição de riqueza como um meio para o crescimento espiritual, para entender a nós mesmos e a D’us, para encher o mundo com o Divino conhecimento como as águas cobrem o mar.
Finanças e economia são um lugar onde o auto-interesse pode se encontrar com o altruísmo – mas somente quando o motor é uma causa mais elevada. Não estão nos pedindo para aniquiilar nossa individualidade ou personalidade singular. Estão nos pedindo para dirigi-la.
Nessa vida somos sempre presenteados com duas opções: ou seremos levados por interesses próprios ou serviremos aos outros.
Os Holtzberg escolheram o caminho dos outros, e pagaram o preço. O Sr. Madoff escolheu o caminho de si mesmo, e em última análise também pagou o preço, mas neste caso, arrastou muita gente inocente. O maior tributo aos Holtzberg seria usar seu exemplo de luz para imitar seus caminhos. Atuar como líderes cujo principal anseio e foco é: servir aos outros, iluminando e aquecendo o mundo ao seu redor.
O desafio é maior quando se trata de riqueza: ela alimentará nosso egoísmo ou a veremos como o presente que estava destinada a ser: ajudar os outros e construir um mundo de consciência mais elevada.
Aprenderemos nossas lições com a atual crise financeira ou nos apegaremos a velhos hábitos e rotinas? Ao comemorarmos Chanucá, a Festa das Luzes, e plicarmos suas lições em nossa vida, o que você escolherá:
trevas ou luz?
(chabad.org.br)