Por Yanki Tauber
Mesmo na época atual, as mulheres aceitam graciosamente a regra geral de "Primeiro as Damas", seja ao abandonar um navio que está afundando ou quando passam por uma porta.
Entendida geralmente como uma concessão ao sexo mais fraco pelo mais forte, a regra na verdade está baseada num argumento muito diferente, pelo menos na tradição judaica.
Quando D'us instruiu Moshê para preparar o povo de Israel para receber a Torá no Monte Sinai há cerca de 3320 anos, Ele disse: "Fala à casa de Yaacov, e diz aos Filhos de Israel" (Shemot 19:3). A "casa de Yaacov", explicam nossos Sábios, são as mulheres; "os Filhos de Israel", os homens.
Em outras palavras, fale primeiro com as damas.
Até então, a regra era "primeiro os homens". Adão (Adam), como sabemos, foi criado antes de Chava (Eva). Nôach e seus filhos entraram na arca em primeiro lugar, seguido por suas esposas – pelo menos esta é a ordem em que estão relacionados em Bereshit 7:13 (uma situação inversa à do "navio que está afundando", se me permite).
Quando Yaacov viajou com sua família, os homens iam à frente e as mulheres os seguiam (Bereshit 31:17), ao passo que Essav colocou as mulheres adiante dos homens; os Sábios notaram essa diferença e a vêem como uma indicação da superioridade moral de Yaacov sobre seu irmão hedonista.
Então, por que D'us deu a Torá primeiro às mulheres?
O Midrash oferece diversas explicações. Para começar, as mulheres são mais religiosas que os homens (certas coisas não mudaram em todos esses séculos); consiga que elas aceitem a Torá, e os homens farão o mesmo (outra coisa que não mudou).
Segundo Rabi Tachlifa de Cesaréia, o contrário é o correto – as mulheres são as rebeldes, portanto precisam ser conquistadas primeiro: "D'us disse a Si Mesmo: Quando Eu criei o mundo, ordenei primeiro a Adam, e somente então Eva foi ordenada, com o resultado que ela transgrediu e perturbou o mundo. Se Eu não convocar primeiro as mulheres, elas anularão a Torá."
O ensinamento chassídico vai mais fundo e encontra a explicação na essência da masculinidade e da feminilidade. O homem deriva da "linha de luz" (kav) que penetra o vácuo (makom panui) formado por D'us para criar o mundo. Porém o makom panui não é um "vácuo" absoluto – um resíduo da Divina luz ficou para trás, formando um éter invisível de Divindade que permeia e sublinha nossa existência. É a partir desse "resíduo" que deriva o componente feminino da Criação.
Portanto o homem é um conquistador; seu papel na Criação é banir a escuridão terrena e trazer a luz dos Céus. A mulher está relacionada com aquilo que é, não aquilo que deve ser feito, encontrando a Divindade dentro do mundo, em vez de importá-la de fora.
Ambos são integrantes do plano do Criador: nossa missão na vida é trazer D'us ao mundo (o papel masculino) e tornar o mundo uma morada para D'us (a especialidade da mulher); banir as trevas (masculino) e revelar a luz implícita dentro da escuridão (feminino).
Durante os primeiros 24 séculos da História, a humanidade teve muito trabalho combatendo as trevas. Portanto o componente masculino dominava. Mas então chegou o dia em que D'us, ansiando pela morada que Ele desejou quando fez o mundo, preparou-se para Se revelar no topo de uma montanha no Deserto do Sinai e transmitir ao Seu povo escolhido uma Torá delineando seus planos para a construção de Sua casa. O homem ainda terá de batalhar, mas todas as suas batalhas daqui em diante serão baseadas no princípio de que, embaixo disso tudo, o mundo é um lugar Divino.
Está na hora de ter uma palavrinha com as senhoras, disse D'us a Moshê.